sábado, 28 de maio de 2016

SÓ ME FALTAVA OS CHIFRES,

   PARA COMPLETAR A MINHA SEMELHANÇA COM O CAPETA.

Ainda me recordo das doces lembranças da minha infância.
Eu era uma criança e me comportava de modo que fazia muitos rirem da minha cara.
Uma vizinha que atendia pelo nome Lili, foi o que me deixou bastante impressionada e saudosa pela sua tamanha bondade.
Era uma mulher linda, clara, bem vestida e muito bem perfumada que tirava bom tempo de sua vida, para conversar comigo.
Me lembro que eu era uma menininha que nem as outras crianças gostavam de brincar comigo.
"Não sei porquê?"
Eu só aceitava os convites para brincar quando estava bem de saúde e aquele tempo estava difícil, devido a forte anemia que vinha sofrendo.
Dona Lili, era o meu anjo guardador. Sempre me trazia guloseimas e comida, pois sabia da precariedade que passávamos.
Contava-me causos e me pedia para que lhe contasse os que eu sabia.
Certa vez de tanto ouvir reclamando de dores de cabeça, e ao me perguntar o que eu ia ser quando crescer, lhe respondi com convicção;
_Vou ser médica para lhe curar dessa triste dor de cabeça.
Ela me olhou com serenidade e disse-me;
_Só de estar conversando com você, já me sinto totalmente curada... Briga na escola?
Me perguntou sorrindo.
Lhe respondi com entusiasmo.
_Não. Sou boazinha de dar pena!
Quando a vi gargalhando sem dar tréguas, me envergonhei do que relatei.
Senti que não estava acreditando no que lhe disse, e lhe perguntei;
_A senhora não acredita?
Ela me respondeu;
_Acredito sim. Como não haveria de acreditar?
Me senti encorajada e passei a lhe contar um ocorrido que recentemente havia me acontecido. e comecei.
_Dona Lili, lá no meu colégio ha uma menina que só faz para me agredir. Um dia ela puxa os meus cabelos, outra hora, passa a perna para me derrubar no chão e junto com alguns outros estudantes, já até furou o meu braço com a ponta do lápis.
_Nossa! Falou com surpresa. E porque não contou para a sua professora?
_Contei, mas a professora acreditou nela e acabou por me chamar de cria amaldiçoada.
_Verdade?
_Sim.
_Como foi que ela te xingou?
Respondi;
_Senta, cria amaldiçoada.
_E a menina te machucou?
_Ainda bem que não. Caí, e me levantei na mesma hora. Só o meu braço que não quer melhorar.
Dói o tempo todo.
_O que é que tem o seu braço? (Me perguntou)
_Ela furou com o lápis e a ponta ficou dendro da carne, respondi, mostrando-lhe.
Coitada da minha protetora, ela ficou tão triste que vi as lágrimas correndo pelo seu rosto.
Mesmo pequena, me lembro do meu enorme arrependimento, por ter lhe contado.
Lhe disse.
_Não precisa chorar, tudo em mim já está sarado. Eu não quero lhe ver chorando!
Ela se concertou dizendo;
_Conta mais meu coração, e eu continuei na minha maior inocência.
Esta mesma menina, dona Lili, ontem, chegou na escola muito triste porque estava doentinha.
Andou a sala inteira, passou por todas as carteiras, mostrando a sua temperatura para que víssemos o quanto ela esta com febre. Veja dona Lili, como é que sou boazinha de verdade. Fez tudo isso e eu nem bati nela. Ela pegou a minha mão e levou até a sua testa e eu não fiz nada contra ela. E olhe que eu já estava com a mão em punho e coçando, heim? Veja como ela correu perigo de apanhar, se eu fosse uma memina ruim?
Batendo palmas,  Dona Lili me disse;
_Viu? Eu sabia que não faria mal a ninguém? Tem que ser diferente dela. E depois, meu benzinho, eu não gosto de criança agressiva
Desapontada lhe respondi;
_É, né? Mas passei uma vontade que até babei na roupa toda. E depois, tenho certeza que a minha mãe não ia gostar nem um pouco em saber que eu, a agredi.
_A tua mãe sabe do lápis em seu braço?
_Não, e passei a chorar.
_Conta e peça para que tire a ponta que ficou cravada e que vá falar com a sua professora.
_Está bem!
Antes mesmo de eu contar o ocorrido para mamãe, ela  já estava sabendo até dos mínimos detalhes.
Mamãe pegou uma agulha e foi tirando a ponta do lápis com muito cuidado e enquanto fazia isso, me alertava para que ficasse sentada mais perto da professora e longe da garota.
Claro, eu era muito pequenina, mas de santa eu não tinha absolutamente nada.
Só me faltava os chifres para completar a semelhança com o capeta.




































                                      MARY PEGO

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