domingo, 22 de maio de 2016

QUASE MORRI, MAS ATÉ QUE FUI FORTE PELO MEU TAMANHO.

     FUI PISOTEADA E NEM CHOREI, MAMÃE CHOROU POR MIM.

Quando tinha mais ou menos, oito anos de idade, gulosa como sempre fui,
e para completar, papai não tinha condições financeiras para comprar doces para sete filhos,
e ao sabermos que iriam distribuir doces na igreja, ficamos todos acesos para que a hora chegasse o mais rápido possível.
O pastor da igreja que frequentávamos, ia distribuir depois do culto realizado.
Eu, que já era uma peste, depois da noticia, fiquei muito mais elétrica do que já era normalmente. Ninguém mais conseguia me conter.
Pensei que ia trazer baldes de balas pra casa.
Achei que iriam distribuir em pacotinhos, como tinham sido feito nas vezes passadas,
mas como faltou compreensão da parte dos adultos responsáveis, aquilo quase que acabou em tragédia.
Acenderam as luzes de fora e pediram que todos nós crianças, fôssemos para o pátio,
e lá passaram a jogar doces em cima da criançada faminta.
Na primeira chuva de balas doces, eu já estava deitada sobre a poeira, sendo pisoteada pelo resto.
Como sofri neste dia.
Sai sangrando o nariz e fiquei por bons dias, coxeando fora do prumo.
Comi os meus doces gemendo e lamentando muito durante a semana.
Mamãe perdeu a alegria de me ver daquele jeito.
Lembro-me com nitidez que ela até chorou, me prometendo reparações.
Iria exigir mais cuidado com as crianças na hora de dar-lhes presentes.
Eu era uma criança.
Fui pisoteada e nem chorei, mamãe chorou por mim.
Pensei;
-Enquanto choro, os outros comem os meus doces.
A minha vontade era tamanha que nem pensei em  fraqueza na hora.
Mesmo caída, disputei com adolescentes de até dezesseis anos,
cada bala que caía ao chão.
O que a fome não faz, né?
Quase morri, mas até que fui forte pelo meu tamanho?



































                           MARY PEGO

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